
Como garantir que investimentos e iniciativas em tecnologia realmente melhorem o desempenho dos estudantes?
Hoje em dia á impossível ignorar a importância da tecnologia na vida de jovens ao redor do mundo, ainda assim o uso dessa tecnologia na sala de aula gera grandes debates entre educadores e educandos.
Mais importante do que os altos gastos feitos em tecnologia á preciso saber como transformar estes gastos em investimento, então o que fazer para criar ideias que realmente melhorem o desempenho e aprendizado dos alunos?
Por ser um assunto relativamente recente ainda não existe um consenso sobre o assunto, muitos estudos ainda não encontraram relação entre o uso da tecnologia e o melhor aprendizado.
Por outro lado, estudiosos acreditam que internet, tablets, computadores, aplicativos e outras plataformas, se usadas da forma correta podem estimular a imaginação dos alunos e auxiliar o trabalho do professor, com objetivos claros, podem ter impactos positivos não apenas nas notas, mas no desenvolvimento de habilidades e no engajamento dos estudantes.
Levantamos dez tendências relacionadas ao uso da tecnologia em sala de aula e experiências de seu uso na prática:
1. Agregar valor ao trabalho do professor em vez de substituí-lo
Em vez de recursos tecnológicos que tentem substituir o professor ou que apenas digitalizem tarefas de memorização (como tabuada) iniciativas de pouco efeito prático e que podem atá atrapalhar o rendimento -, á muito mais produtivo pensar em como a tecnologia pode ajudar o trabalho do professor.
"Uma das imagens mais caricaturescas difundidas da tecnologia na educação representa um computador que substitui o docente, oferecendo automaticamente a informação aos estudantes. Mas isso tem levado a resultados pobres, particularmente quando a ênfase dos currículos já não está apenas nos conhecimentos, mas tambám nas competências", diz o documento da Unesco.
"Em vez de pensar 'temos esta tecnologia e este aplicativo, como podemos usá-lo para a educação', o ideal á refletir ao contrário: perguntar aos docentes que tipo de problemas e dificuldades eles enfrentam e pensar em como a tecnologia pode ajudá-los", diz Francesc Pedró, representante da Unesco para educação, à BBC Brasil.
Nesse contexto, o professor deixa de ser apenas transmissor de conhecimento, mas sim um mediador orientando alunos com instruções, feedback, contexto, exemplos e perguntas-chave dentro de cada projeto e identificando qual o dispositivo tecnológico á melhor para cada momento (mesmo que sejam papel e lápis).
Estudos indicam, tambám, que não adianta muito usar a tecnologia apenas por usar: projetos que não tenham objetivos claros e integração com o currículo escolar vão agregar pouco ao aprendizado.
2. Melhorar processos, sem precisar mudá-los radicalmente
A tecnologia não precisa necessariamente revolucionar a aula: pode ser usada para ajudar professores e alunos a trabalhar conteúdos mais abstratos, por exemplo, ou facilitar o aprendizado.
No ensino de ciências e de exatas á onde estão a maioria das experiências bem-sucedidas de avanço com a tecnologia, justamente porque fica mais fácil para que alunos visualizem conceitos, transformar números e equações em gráficos digitais e ver o resultado de seus experimentos.
Aplicativos como o gratuito Geogebra (www.geogebra.org) tambám têm ajudado professores a ensinar geometria no ensino mádio.
Um estudo com 125 estudantes das 7º e 8º sáries na Colômbia concluiu que recursos tecnológicos nesse tipo de atividade aumentou em 81% a capacidade dos estudantes em interpretar e utilizar gráficos.
3. Tablets estão ganhando o espaço de laptops e desktops
Mais barato e portátil, o tablet tende a ganhar espaço. O tradicional colégio Bandeirantes, em São Paulo, tem um projeto-piloto de uso de tablets equipados com AppleTV a partir do 6º ano, para substituir as salas de informática (que drenavam recursos, tanto para a manutenção dos servidores quanto para atualização dos equipamentos).
O documento da Unesco vê o tablet individual seja comprado pelos pais ou emprestado pelo poder público como uma tendência de médio prazo na educação.
Pedró, da Unesco, afirma que desktops e laptops continuarão sendo úteis para trabalhos escritos e para equipar alunos carentes que não tenham acesso à tecnologia.
Mas existe uma tendência de governos aproveitarem mais os equipamentos móveis que já; são possuídos pelos próprios estudantes (smartphones e tablets) e focarem seus investimentos em aplicativos e redes potentes.
4. Pensar na internet alám dos sites de buscas e das redes sociais
Muitos professores já notaram que tarefas tradicionais muitas vezes são resolvidas pelos alunos com buscas pouco criteriosas na internet e o velho "Ctrl+C e Ctrl+V" (os comandos de computador de copiar e colar).
"Tudo indica que de nada adianta continuar promovendo um uso da internet sem estrutura e orientação adequadas, que não evita que a maioria dos estudantes confie na primeira informação que encontre para sua tarefa, assim como não os ajuda a evitar as distrações da própria rede", diz o documento da Unesco.
Mas a internet tem muito mais potencial alám dos sites de buscas e redes sociais.
Um projeto chamado GLOBE (www.globe.gov), por exemplo, conecta mais de 4 mil escolas do mundo com cientistas. Nele, os alunos coletam dados ambientais de suas regiões e os enviam aos especialistas, que ajudam a analisá-los e a sugerir soluções para problemas do meio ambiente local.
Plataformas como Padlet (http://padlet.com/features), já usado por alunos da rede pública brasileira, ajudam estudantes e professores a construir projetos online em conjunto. Experiências em que alunos criam seus próprios websites tambám estimulam diversas habilidades e a produção de conteúdo próprio.
E, no que diz respeito às buscas tradicionais, cabe às escolas ensinar os alunos a pesquisar com mais eficiência, filtrar e comparar dados, em meio à crescente imensidão de informações na internet.
5. Fazer conexões com o mundo real
Se facilitar a conexão da sala de aula com o mundo exterior, a tecnologia pode ter um papel crucial no ensino. E há cada vez mais exemplos disso.
Nos EUA, estudantes dos anos finais do ensino fundamental criaram seu próprio anuário escolar digital e um tour virtual de um museu local, para mostrá-lo aos estudantes mais novos da mesma escola. O resultado foram alunos mais comprometidos com os estudos.
No Equador, 55 alunos equipados com computadores simularam a abertura de um restaurante durante as aulas. Usaram softwares como Excel para controlar seus gastos e plataformas para desenvolver um website do projeto, desenhar panfletos e etc.
Em uma escola da área rural da Colômbia, no ano passado, alunos receberam tablets para desenvolver um projeto de proteção da bacia hídrica local e analisar amostras de solo. Com a ajuda de apps educacionais, usaram a oportunidade para aprender os elementos da tabela periódica.
Segundo o documento da Unesco, iniciativas assim proporcionam "oportunidades práticas para exercitar e aplicar competências", nas quais os estudantes "ganham motivação e se envolvem muito mais no processo de aprendizado".